A acne é uma condição dermatológica crônica e pode levar a impactos emocionais e mesmo a cicatrizes na pele. A doença, de característica hereditária, atinge mais de 85% dos adolescentes e pode continuar na vida adulta.
Lidar com essa situação é complicado, principalmente tendo em vista o número de mitos que são associados à acne. Esses mitos, muitas vezes, são perpetuados pelos pais que acabam aconselhando erroneamente seus filhos e deixando de lado o aconselhamento de um profissional de saúde. Abaixo, Leonardo Abrucio Neto, chefe do serviço de dermatologia do Hospital Santa Catarina, em São Paulo, comenta alguns desses mitos e erros mais comuns sobre a acne.
• Acne e espinha é a mesma coisa
Não. A espinha (ou pústula) é apenas uma das formas da acne. Leonardo Abrucio Neto explica: “a acne é uma enfermidade do folículo pilossebáceo, não contagiosa, de característica hereditária (genética), caracterizada por comedões (cravos), pápulas (bolinhas vermelhas sem pus), pústulas (ou espinhas, quando há pus) e nódulos na pele, que aparecem nas áreas com maiores secreções sebáceas (rosto e costas, por exemplo)”, explica o especialista.
Há vários níveis de acne – pessoas com cravos, apenas, e outras com um nível desfigurante de espinhas – e várias causas. Além da acne genética existem alguns casos que são desencadeados por medicamentos, estresse ou alteração hormonal (como é o caso da adolescência), por exemplo.
• A acne é resultado de uma higiene inadequada.
Não. A acne é uma doença de característica genética. A higiene inadequada agrava, mas não é a causa da acne. Quando não há uma boa higiene da pele de quem já tem acne, ocorre o acúmulo de sujeira e gordura, que entope os poros. Isso, a secreção sebácea e as bactérias aumentam a incidência da acne.
“A tríade da acne é essa: a hiperqueratinização folicular (uma alteração no ciclo de vida das células da pele, que vão morrer mais rapidamente e que contêm queratina na pele), a hipersecreção sebácea (causada por fatores genéticos ou hormonais) e, posteriormente, a colonização bacteriana desses poros, que vai causar a inflamação e, consequentemente, as ‘espinhas’, ou seja, o acúmulo de pus”, explica Leonardo.
• Não se deve mexer nas “espinhas”, pois isso vai criar cicatrizes na pele.
Sim. O indicado é não mexer nas “espinhas”. “Isso pode, primeiramente, disseminar a colonização bacteriana causadora da acne para outra área. E, em segundo lugar, o traumatismo da pele pode gerar alterações na pigmentação ou mesmo cicatrizes mais profundas”, diz o especialista.
Leonardo Abrucio Neto também pondera sobre o uso de esponjas abrasivas para limpeza da pele. “Essas esponjas ajudam a desobstruir o folículo, mas o trauma na pele pode agravar a inflamação e gerar cicatrizes, por exemplo. O recomendável é o uso moderado – em partes da pele sem inflamação – dessas esponjas associadas a sabonetes especiais e que podem ajuda no controle da condição, não no tratamento.”
• Sua alimentação pode influenciar no aparecimento da acne.
Não há nenhum estudo que diz que um determinado alimento piore a acne em todas as pessoas, aponta Leonardo. Entretanto, lembra o especialista, a ingestão em excesso de alguns alimentos, como aquelas comidas gordurosas (como é o caso do chocolate), frutos do mar – por causa do iodo, substância que estimula a secreção da glândula sebácea – e leite em excesso poderia piorar – mas não causar – a acne.
“Alguns condimentos também pioram essa condição em pessoas suscetíveis à acne. Mas não é proibido ingerir esses alimentos, apenas diminuir o consumo. Proibir pode gerar o estresse e o estresse, sim, pode aumentar a acne consideravelmente”, diz Leonardo.
• Estresse causa acne.
O estresse – condição comum na vida moderna, em qualquer faixa etária – é um dos fatores principais que agrava a acne. Durante o processo de estresse, o organismo aumenta a liberação de hormônios – adrenalina e cortisol – e isso faz que a produção das glândulas sebáceas aumente, piorando o quadro de acne, explica Leonardo Abrucio Neto.
• O problema com a acne é somente estético
Não. O grande problema da acne é o fator psicológico, lembra o médico. A acne em geral – por conta das lesões – leva ao desenvolvimento de transtornos mentais, como a ansiedade e a depressão.
“É um processo similar ao que ocorre com outras doenças de pele, como no caso da psoríase. O impacto psicológico é muito grande. Em alguns casos há o aumento do risco de pensamentos suicidas, pois há casos de acne muito graves, que chegam a ‘desfigurar’, e a pessoa pode não aceitar a própria imagem, se isolar socialmente e desenvolver a depressão, que é fator de risco para o suicídio. Não é algo comum, mas é preciso estar atento”, alerta Abrucio Neto.
• A acne com o tempo acaba.
Sim. Na maioria das pessoas a condição melhora com o tempo, especialmente após a adolescência. Mas de acordo com o especialista, entre 20% e 30% das pessoas continuam com a condição na idade adulta.
“Um público sensível à acne na idade adulta são as mulheres, por exemplo, pois as alterações hormonais – comuns em condições como síndrome do ovário policístico – fazem persistir a condição. E existe também um componente genético na acne, o que quer dizer que algumas pessoas podem ter acne durante toda a vida se não forem tratadas”, explica o médico.
• Acne é contagiosa?
Uma resposta simples e direta: não, a acne não é contagiosa, pois é uma condição com características genéticas.
• Pele oleosa piora a acne?
Sim. A pele oleosa é uma das características do portador de acne. Com o aumento da secreção sebácea – que serve como meio de cultura para as bactérias na pele – há uma maior propensão a piorar a acne.
• Não se deve usar maquiagem quando se tem acne.
Não se deve usar maquiagem gordurosa, especifica Leonardo Abrucio Neto, mas apenas as oil-free – livres de óleo – para não obstruir os poros.
• “Uso um medicamento ótimo para tratar as espinhas, que compro na farmácia”.
Há várias formas de acne. Algumas só causam os chamados “cravos”, outras pessoas têm poucas “espinhas”, e há alguns casos que são mais agravados. Não é só usar os medicamentos de farmácia, é preciso ir ao médico dermatologista e definir qual o quadro que você desenvolveu.
E já que o assunto é farmácia, é preciso estar atento aos medicamentos usados, lembra Leonardo: os medicamentos corticoides, ou halogenados (que contêm iodeto, brometo), alguns anticonvulsivantes, remédios para tuberculose e antipsicóticos, todos causam acne. Por isso, o aumento da acne após o início de outro tratamento é normal.
• Se meus pais tiveram acne na juventude eu também terei.
Provavelmente, diz o especialista. Se os dois pais tiveram acne na juventude, as chances de os filhos desenvolverem são maiores de 50%.
* Publicado originalmente no site
O que eu tenho. (O que eu tenho)